
... Acho que nosso destino já vem traçado feito o desenho da renda de bilro das Rendeiras do Cedro...,
... Elas vão fixando com alfinetes, o papel com o desenho desejado e, com bilros e linhas, vão seguindo aquele traçado até o fim...
Nelson Barbalho, em seu livro Vasto Mundo, de 1981
A renda de bilro
A renda de bilro, muito apreciada por sua beleza, é uma arte manual que faz parte da cultura popular brasileira. O seu nome se deve aos instrumentos utilizados para tecer, os chamados bilros, hastes de madeira onde a linha é enrolada.
Os primeiros registros históricos sobre a origem da renda de bilros datam dos séculos XV e XVI, na Europa, e sua invenção é reivindicada pela região de Flandres, na Bélgica.
De início, era usada como adereço nos trajes do clero e da realeza. Posteriormente, nos séculos XVII e XVIII, já era usada em adornos de cabeça e vestidos, e costumava ser produzida em fios de linho, mais tarde substituídos pelos de algodão.
A partir do século XIX, era mania na Europa, a tal ponto que, na corte francesa, seu consumo exagerado desencadeou uma crise financeira, em virtude dos altos custos de sua importação.
No Brasil, acredita-se que foi introduzida pelos portugueses, sendo, durante muito tempo, atividade de freiras e, em seguida, popularizada entre as mulheres dos pescadores. Surge assim a expressão rendas do Norte, do mar ou da praia.

O caminho da renda de bilro até o Brasil
Do litoral, não demorou a se expandir Brasil afora, chegando ao interior e impondo um desafio às rendeiras locais: preservar, ao máximo, a brancura das peças da poeira característica do ambiente árido. Curiosamente, as rendas de Caruaru conservavam o mesmo alvor daquelas do litoral.
As rendas percorrem caminhos e se modificaram, tecendo, simultaneamente, linhas e a identidade da região. Encontramos no Brasil várias formas de bordado e rendas – ou seja, formas comunitárias de socialização e fortalecimento de laços geradores de renda para os artesãos e artesãs.
Qual o equipamento necessário?
Para a confecção da renda de bilros, precisamos do auxílio de um conjunto de itens, como veremos abaixo
1
Uma almofada (Rebolo)
2
Bilros para fios de diversas espessuras
3
Moldes

4
Alfinetes finos e grossos
5
Almofada para alfinetes
6
Um furador
7
Cartolina para os moldes
Tu me ensina a fazer renda?
A renda de bilro é obtida trançando-se fios presos a fusos ou bobinas de madeira: enrola-se a linha na ponta, que é presa por um alfinete ou espinho, a um molde vazado, em papelão, contendo o desenho a ser executado.
Os bilros são manuseados embaralhando-se, entre si, em números variáveis. Como base ou apoio, a rendeira utiliza uma almofada cilíndrica, confeccionada em tecido e preenchida com capim ou folhas secas, como a da bananeira, onde se prendem o molde e os alfinetes. Um pequeno caixote de madeira serve de apoio. Posicionam-se, geralmente, sentadas no chão, com as pernas cruzadas ou, às vezes, utilizam-se de assentos, onde acomodam o corpo.
Há grande variedade de motivos para rendas e nomes distintos, como: aplicação, traçado morto, lacê, traça, meio trocado, trança, dentre outros, que vão se multiplicando e se adequando às características de cada região, assim como as cores das linhas, introduzidas posteriormente. A renda branca, porém, é considerada a mais tradicional.
A melhor maneira de começar a aprender é estudar a execução dos três pontos básicos: ponto inteiro, meio ponto e ponto trançado.
Passo a passo
01.
Trace o molde em papel vegetal
02.
Coloque-o sobre uma cartolina e faça pequenos furos nos locais indicados, use uma agulha ou um furador apropriado
03.
Faça as linhas de guia
04.
Alfinete os moldes sobre a almofada
05.
Enrole os bilros em pares com linha apropriada
06.
Coloque um alfinete em cada ponto
07.
Prenda um par de bilro em cinco pontos e outro par do lado

Quanto tempo para produzir?
Há peças de vestuário e casa que levam 2 meses para ficarem prontas.
Jogar 973 partidas de futebol sem parar
Maratonar 36 séries na Netflix (com episódios de 40 minutos)
Ouvir 68 vezes a discografia completa dos Beatles
Coisas que você poderia fazer nesse tempo...

A renda em Caruaru
Como outras manifestações culturais de natureza popular, não é possível datar o início dessa atividade no local. No entanto, os relatos das antigas artesãs fazem crer que no final do século XIX ela já era exercida em escala considerável.
O protagonismo feminino, no manejo das rendas de bilro em Caruaru, aconteceu através de um grupo de mulheres, as quais obtiveram projeção por manterem as rendas sempre alvas, tal como era comum nas rendas do litoral. As mulheres rendeiras de Caruaru inspiraram o escritor recifense Mário Sette (1918) a escrever o conto Clarinha das Rendas, que encantou o poeta Olavo Bilac, ao retratar um povoado caruaruense no bairro Cedro, eternizando, por meio das letras, o ofício das rendeiras de Caruaru.
“Na encruzilhada dos atalhos, para onde dava a saída, ao fim da tarde, Maria Clara, — Clarinha das rendas — vinha sentar-se perto da porta, na soleira de pau, pondo-se a desenhar no risco da almofada a alva e linda renda do seu casamento, traçando entre os dedos hábeis, os bilros toscos de madeira.”...
Conhecendo as artesãs
O trabalho artesanal ainda sofre para ser reconhecido, especialmente feito por mulheres, por que não aprendemos os nomes delas?
Nestas imagens, registramos parte da história destas mulheres artífices. Em vida, algumas lembram o tempo, no qual embalavam filhos e netos com o som dos seus bilros e, também, os sonhos juvenis. Ajudaram a construir, com seu ofício, e tornar conhecido o lugar em que nasceram ou escolheram para viver.





















